A força propulsora da mente

253Eu sonhei com o deserto do Sahara desde 2003, quando completei as mil milhas de Porto Seguro a São Bernardo do Campo-SP. Me lembro ter escrito em um papel que, gostaria de cruzar o Brasil correndo e após realizado esse sonho brasileiro, determinei que iria correr no deserto do Sahara. Mentalizei isso e eternizei no papel até surgir os 4 desertos que abriria a grande oportunidade de correr o Sahara.


Quando recebi a aprovação da Crocs como uma grande parceria, eu sabia que o sonho estaria muito perto. Fui para a China em junho correr o deserto de Gobi o mais alto e úmido do planeta, lá senti que o desafio de correr os 4 desertos seria imenso, mas consegui completar o primeiro deserto. Voltei determinado a mudar meus treinos e a fazer da minha força mental o meu maior parceiro para chegar no deserto do Sahara firme e determinado a enfrentar as condições adversas com o sorriso no rosto.


Os meus treinos basearam-se em correr nas ruas de São Paulo, na Serra da Cantareira, em uma esteira durante 24horas e nas praias de Ilhéus simulando correr nas areias do deserto. Também estudei as características do solo, umidade relativa do ar, temperatura e a altimetria do Sahara. Com isso passei a pensar firmemente no ambiente que iria enfrentar, a cada treino ou quando estava relaxando eu me imaginava sentindo o ambiente do deserto. Após fazer essa programação mental, a sensação era que eu estava lá.


Quando cheguei senti o solo, o cheiro, o calor e a umidade do ar e o impacto foi bem menor, mas as adversidades que se apresentavam diariamente eram enormes. No primeiro dia meus músculos sentiram bastante o esforço desprendido nas areias finas fofas do deserto, já no segundo dia foi o forte calor que me deixou exausto. Assim se seguiu dia a dia, parecendo uma eternidade cada etapa.


Eu usei a estratégia mental de correr as quatro primeiras etapas como se eu estivesse treinando para correr uma ultramaratona de 24 horas.Com isso fui melhorando a cada dia, e guando chegou o dia mais longo e perigoso eu segui juntamente com o Rodrigo Cerqueira, a passos entusiasmados e firmes,só parando 10 a 15 minutos a cada 11 km e uma parada de 25 minutos para preparar a comida antes de entrar na noite gelada do deserto.


Seguimos em frente recebendo no rosto o vento gelado com partículas de areias que nos alfinetava como agulhas, e o solo trocando a cada hora, ás vezes era areia fina que fazia os pés afundarem, ás vezes era pedras e areias e depois areia mais grossa que forçava ainda mais a musculatura. O frio da noite era enorme chegava a 4 graus inversos do forte calor encontrado durante o dia que chegou a 51 graus. Com esse panorama avistamos o acampamento exatamente as 4 e 17 da manhã meio desconfiados com os nossos próprios olhos, exaustos ouvimos gritos e aplausos, tínhamos conseguido o nosso objetivo, corremos 20 horas e 17 minutos sem dormir. Foi uma visão magnífica emocionante e um grande alívio por chegar ao acampamento sem lesão sem bolhas somente com o extraordinário cansaço que nos fazia mais lento em tudo, nesse momento voltamos a ser crianças, pois tínhamos vencido a parte mais cruel do deserto e faltam apenas 10% do objetivo total da prova. A emoção era maior que o cansaço, eu estava simplesmente em estado de graça, chorar se tornou algo banal naquela noite, era difícil segurar as lágrimas que teimavam em correr a minha face. Nesse momento lembrei-me do meu filho Vinícius da minha família e amigos que torciam pelo sucesso dessa empreitada.


No dia primeiro de novembro partimos para a última e mais rápida etapa, mas também me exigiu buscar forças do fundo da alma, corremos 5,9km em uma subida com areia fofa e um sol de meio dia escaldante. Eu sabia que mesmo correndo 248km  faltavam os 5,9km que poderiam custar a prova por isso tive que ter muita cautela e fiz os 5,9km em 30 minutos. Ao avistar as pirâmides do Egito tive uma sensação grandiosa, estava em um dos lugares mais antigos do mundo me senti nos filmes e documentários que assisti durante toda minha adolescência sobre os mistérios que guardam essas pirâmides, ouvia a música vinda da chegada, depois no final da subida um corredor de camelos montados por guardas, um tapete vermelho no fim a areia do deserto e muitos aplausos.


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Era o momento sublime da vitória eu havia conseguido realizar o sonho de correr o deserto mais quente do planeta. Eu só conseguia dizer consegui, consegui, consegui. Recebi muitos abraços e minha tão desejada medalha que parecia bem mais pesada colocada lado a lado ao minha exaustão.O sorriso se misturou com as lágrimas de felicidade. Volto ao Brasil a imagem das dunas que me forçaram a ter mais controle dos músculos, das danças dos Beduínos e sua música e a alegria das crianças ao recebem das mãos dos atletas cadernos e canetas.As conversas na beira da fogueira entre atletas de 30 diferentes nações.



Levo comigo a lição eterna de que a natureza sempre será maior que o homem. Temos que respeitá-la e preservá-la. Em todos os dias eu pensei no meu filho Vinícius, em minha mãe e irmãs e nos amigos que torceram por mim enviando mensagens.
Um agradecimento especial a Crocs por apostar que eu posso conquistar os 4 desertos, e por me ajudar a manter minha qualidade de vida mesmo estando em ambientes tão extremos como o deserto do Saara..

"Ter força nas pernas é importante, ter uma alimentação rica em carboidratos e proteínas também mas ter a mente firme e entusiasmada fará você conquistar seu sonho"

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